O crescendo de casos de partos de gémeos siameses tem tido um enorme peso nos cofres do estado que, de modo a permitir uma continuação de cuidados médicos gratuitos, terá de ser alvo de uma reformulação.
Uma operação de grande risco e grande custo, de momento, permite a separação de siameses, resultando depois num acompanhamento médico prolongado e consistente, providenciando saúde aos nados separados. Porém, tal irá mudar: a partir do próximo semestre, apenas um dos paridos terá o direito da vida.
De modo a evitar parcialidades na escolha de qual dos gémeos será salvo, ambos serão presos por arames a uma trave de madeira numa ala pública do hospital. Estando o sujeito de pernas para o ar, o cirurgião responsável pela operação, juntamente com o seu assistente bardo-necromante, irá posicionar uma serra de mão perpendicular à virilha do sujeito, procedendo a movimentos oscilatórios que permitem a penetração da serra no ventre mole (deverá haver uma lavagem da placenta prévia à realização da separação de modo a evitar uma fraca serragem dos ossos). Enquanto tal está a ser efectuado, o bardo-necromante terá de cantar passagens do antigo testamento enquanto toca ukulele, de modo a que os espíritos do destino escolham qual dos nados siameses será digno para receber o dom da vida.

Após ser feita a separação, o nado que sobreviver será um novo cidadão. Contudo, terá de ter obrigatoriamente dois nomes próprios, pois será o responsável pela alma e memória do seu falecido irmão. De forma oficiosa, o nado sobrevivente terá dupla entidade, resultando em dois bilhetes identificativos, dois números de segurança social, etc.
Sem mais,
O Conde.
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